quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Oxalá , criador do mundo





Oxalá, é originário do Yorubá, muito cultuado no Brasil, quem numa gira, em algum terreiro de umbanda, nunca viu ou reparou na gigantesca imagem de Jesus Cristo no altar? Mesmo nas tendas destinadas ao candomblé, em que é feita a gira de umbanda fora dos dias de toque, existe um altar com Jesus Cristo em destaque. Nem preciso salientar que o sincretismo de Oxalá na umbanda é Jesus Cristo, acho que já deu para raciocinar.
Na África, Oxalá tem outro nome, é cultuado como Obatalá, e quando os negros chegaram ao Brasil, trouxeram ainda outro nome com eles, o nome de Orixalá, o qual tem o significado de Orixá dos Orixás.
Nos cultos africanos, Oxalá é o patriarca da família, chefe da família dos Orixás, traz junto de si a memória de outros tempo, as soluções de problemas semelhantes que já foram enfrentados no passado, e uma sociedade que cultiva firmemente seus ancestrais deve muito respeito a Oxalá.
Oxalá é ainda o responsável pelo princípio da geração, o que o torna também responsável pela existência de todos os seres do céu e da terra.
A cor que representa Oxalá é o branco, por ser o branco a soma de todas as cores, e simbolizar paz, pureza e limpeza.
Por isso tanto na umbanda como nos candomblés, encontramos os integrantes da gira ou toques de branco, simbolizando uma homenagem ao pai dos Orixás.
Também ocorre das pessoas vestirem o branco nos terreiros, e juntarem na roupa branca as cores do seu eledá que é seu primeiro Orixá de cabeça e juntar tambpem cores de seu ajuntó que são os Orixás que auxiliam o Orixá de cabeça.
O curioso é que as lendas explicam que todos os Orixás são filho de Oxalá, menos Logum Edé, que é filho de Oxosse com Oxum, e Iemanjá, que segundo as lendas é filha de Olookun, o mar.
Nos candomblés, ainda encontramos o desdobramento do Orixá Oxalá em mais duas qualidades, estas sendo Oxaguian, que representa Oxalá em sua juventude, Oxalá molo e Oxalufan, que representa Oxalá mais velho, o ancião.
Falando sobre Oxaguian, sem nos adentrarmos muito nas qualidades de Oxalá existentes no candomblé, que são 16, Oxaguian é originário de Ifé, na Nigéria, onde correu o mundo conquistando seu reinado.
Considera-se Oxaguian como um Orixá funfun, porque manipula e tem poder sobre a formação dos seres do outro mundo e deste mundo.
Uma curiosidade, é que Oxaguian tem o significado de " orixá comedor de inhame pilado, sendo seu símbolo o Idá ( espada ).
Oxalufan, o Oxalá ancião, também é orixá funfun, carrega um cajado de nome Opaxorô, ou cetro do mistério. Criador de todos os seres do mundo, chamam-no de modelador dos homens, podemos até traçar um paralelo com a Biblia, que ensina-nos que Deus criou o homem de barro, os moldou a sua imagem e semelhança.
Oxalufan não como sal, e o caracol como sua oferenda predileta, embora a maioria das pessoas ofertem canjica branca.
A cor usada para Oxalá, mais uma vez, não importando sua qualidade, será sempre o branco.
Nos terreiros e tendas, a primeira guia que o filho de fé ganha ao tornar-se membro da tenda é a guia de Oxalá, toda branca.
O boldo é sua erva mais importante, tanto que é conhecido como tapete de Oxalá. O dia da semana consagrado a Oxalá é sexta-feira, mas pude aprender recentemente que o candomblé da Angola reserva o dia de quinta-feira a aprtir das 18 horas até as 18 horas de sexta -feira em resguardo, sem fazer obrigações e com o máximo de respeito.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Oxum, Rainha das Águas Doces






Apesar de todos pensarem que Oxum reina apenas nas cachoeiras, Oxum é o nome de um rio de uma região da Nigéria chamada Oxogbô, situada em Ijexá. Considera-se neste local a casa de Oxum. Todos pensaram, mais calma aí, eu aprendi que Oxum é a Senhora das Cachoeiras. Mas na África, com muita frequência associam-se os Orixás femininos com os rios, e sendo Oxum , na verdade, Senhora da Água doce, podemos entender que seus domínios abrangem também os rios. Vale salientar que as águas em movimento representam Oxum, mas as águas com lama , pantanosas ou a famosa água parada, não representam Oxum e sim Nanã, Orixá que falaremos adiante. Hoje em dia as cachoeiras são o local que os filhos de fé fazem suas oferendas a Oxum. As pessoas que já frequentam terreiros e tendas há tempos, afirmam que Oxum é muito delicada, sua imagem é associada à maternidade, e as lendas a adornam com colares, apetrechos próprios do sexo feminino, jóias e perfumes. O ventre da mulher, pertence a Oxum, ela é a responsável pela fecundidade, por isso as crianças lhe pertencem. Nos rituais de iniciação, Oxum é muito importante, visto que representa a gestação e o nascimento. Oxum ainda é reconhecida como o Orixá da Riqueza, sendo o ouro obtido da terra sua propriedade, é a Dona do Ouro. Entre os povoados Yorubá, chama Oxum também de iyalodê que tem o significado : aquela que comanda as mulheres na cidade e arbitra litígios. Ouvimos nos terreiros e tendas, Mamãe Oxum e Mamãe Iemanjá, a diferença entre as duas é que a Mamãe Oxum, foi relegada ao posto de mãe jovem, aquela mulher que ainda tem algo de adolescente, cheia de paixão, sua responsabilidade de mãe é somente sobre as crianças e bebês, aliás, iniciando-se realmente na fecundação em si, enquanto Mamãe Iemanjá já é a mulher adulta e madura, seus filhos são sempre adultos, e não crianças. Oxum pode ser sincretizada de diversas formas, tais quais Nossa Senhora Da Conceição, Nossa Senhora Da Aparecida, Nossa Senhora Da Fátima, Nossa Senhora Da Lourdes, Nossa Senhora Das Cabeças, Nossa Senhora De Nazaré. A cor de Oxum é o amarelo ouro, então nem precisamos explicar o porque de seu mineral ser o ouro, e neste texto já foi discorrido sobre isso. Seu dia da semana é sábado, e sua bebida é a champanhe branca. Sua comida , é o ado, comida ritual de milho vermelho torrado e moído temperado com azeite de dendê e mel, e o omolucum,que é o feijão fradinho cozido, passado no azeite de dendê com salsa picada e camarão seco também picado ou ralado. Coloca-se em tigela de louça branca, acrescentando de ovos cozidos por cima, mas sobre as comidas e a forma de preparo eu escreverei em um capítulo separado a de todos os Orixás. Uma das principais ervas consagradas a Oxum existe uma erva que se chama mãe boa, que é a erva sagrada de Oxum, tem a mesma importância que a espada de São Jorge tem para Ogum. Só é usada nas obrigações ritualísticas e banho de purificação e somente por filhos de Oxum. O povo costuma usar esta erva para diminuir os efeitos do reumatismo em forma de chá ou banho. Podemos ainda citar uma infinidades de ervas, como o ipê amarelo, a calêndula, etc. As velas para este Orixá são amarelas. Existem várias qualidade de Oxum, tais como Apará, Ijimum, Iápondá, Ifé, Abalu, Jumu, Oxogbo, Ajagura, Yeye Oga, Yeye Petu, Yeye Kare, Yeye Oke, Yeye Oloko, Yeye Merin, Yeye Àyálá, Yeye Lokun, Yeye Odo. Sua corda é amarelo ouro. Uma lenda muito importante, diz que Oxum foi a criadora do Candomblé. Olorum deu a missão de religar o orum ( céu ) e o aiê ( terra ), separado pela indisciplência dos homens. Os Orixás ficaram muito aborrecidos em não conviverem mais com os homens, e então Oxum teve a idéia de preparar os homens para receberem os Orixás em seus corpos. Oxum veio a terra ( aiê ) e juntou as mulheres, raspou suas cabeças, as banhou com ervas, enfeitou seus pulsos com idé ( pulseiras ), adornou suas cabeças raspadas com penas de Ecodidé ( pássaro sagrado ), e fez as mulheres belas e prontas para receberem os Orixás. E vieram os Orixás, que dançaram ao som dos atabaques, e para alegria de ambas as partes, Orixás e humanos, estava inventado o Candomblé. Outra lenda , é que Oxum queria obter para si o poder da adivinhação, queria saber o segredo do jogo de búzios que pertencia a Exú. Oxum foi até o reino de Exú e este já desconfiado de ver Oxum em seu reino perguntou o que ela queria ali. Exú ao descobrir o que Oxum queria, quis expulsa-la dali , gritando que não lhe ensinaria nada. Mas Oxum fez um desafio a Exú, disse que ele não conseguiria descobrir o que carregava entre seus dedos, visto que uma de suas mãos estava fechada. Exú, ao se abaixar para ver melhor, dá a vantagem que Oxum esperava ter, ela joga um pó mágico em seus olhos, que cegam e causam ardência, e Exú começou a gritar : Eu não enxergo nada , onde estão meus búzios ??? Oxum matreira como sempre, finge-se de preocupada, e faz que vai ajudá-lo, e responde : Quantos são?? E Exú responde : 16!!! Daí Oxum diz achei um grande, e Exú responde é Okanran, me dê ele!!! E Oxum diz novamente, achei outro menorzinho, e Exú responde, é Eta -Ogundá, me da isto daqui....e assim Oxum descobriu todos os segredos da arte adivinhatória dos búzios. Ifá, Orixá da adivinhação, pela coragem e inteligência de Oxum deu a ela o poder de dividir os jogo de Búzios com Exú

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Ogum, Rei da Guerra, Vencedor de Demanda








“Bi omodé bá da ilè, Kí o má se da Ògún”.
(Uma pessoa pode trair tudo na Terra Só não deve trair Ogum).


Como não poderia deixar de ser, abro a primeira postagem deste blog com o Orixá que , abre nossos caminhos, é Pai, Amigo, Irmão.
Estamos falando de Ogum.
Conforme a tradição afro-brasileira, Ogum foi o segundo fiho de Yemanjá e Oxalá, tendo por este motivo estabelecido uma grande amizade com seu irmão mais velho, Exú, este sendo bem mais presente que seus demais irmãos.
Ogum e Exú andavam sempre juntos, tinham habilidades e interesses semelhantes, sendo que Exú reinava nas encruzilhadas enquanto Ogum era dono das estradas do mundo.
Ogum é a figura do guerreiro.
Outra história, que eu já ouvi, é que Ogum tinha uma capa de búfalo que ao vesti-la, tornava-o invisível, e assim ia conhecer seus inimigos de perto, sem ser visto, e conhecendo seus pontos fracos, depois atacava-os sempre ganhando suas batalhas, Ogum nunca perdeu uma guerra.
Podemos observar, como frequentadores de terreiros, pelos quais já passamos e pelo qual frequentamos hoje, que existem diversas qualidades de Ogum, mas Ogum Megê, é o chefe de todos Orixás.
Ogum Megê, trabalha em harmonia com Omulú, na entrada da Kalunga Pequena ( cemitério ), e com Iansan do Balé.
Temos ainda as qualidades mais conhecidas de Ogum, que são Ogum Rompe Mato, Ogum Beira -Mar, Ogum de Ronda, Ogum Iara, Ogum Xoroquê, Ogum de Lei, Ogum Sete Ondas, Ogum Sete Lanças, fora as qualidades de Ogum no Candomblé.
Tive a oportunidade de ouvir um cd de pontos cantados, que cita Ogum Rompe Nuvens, então podemos entender que realmente existem muitos desdobramentos do Orixá Ogum, sua falange é muito grande.
Nos Candomblés encontramos mais qualidades, tais como Tisalê, Xoroquê, Ogunjá, Onirê, Alagbede, Omini, Wari, Erotondo, Akoro Onigbe.
Ogum é o primeiro Orixá a ser saudado, depois que se despacha Exú nas giras.
É sempre o Orixá Ogum que desfila na frente, que abre caminho para que os outros Orixás, venham a manifestar-se.
Ainda falando nos desdobramentos do Orixá, em Irê acredita-se que Ogum é composto de sete partes. Há uma frase que diz :Ogún méjeje lóòde Iré, que faz alusão as sete aldeias que existiam em volta de Irê.
Ante que fique algumas dúvidas, sobre o que é Irê, respondo a questão através de uma história contada nos Candomblés.
Ogum, teria sido filho mais velho de Odùduà, e fundador de Ifé, tendo assim o título de Oniré ( Rei de Irê ), por ter invadido e tomado posse da cidade de Irê, matando seu rei , e usava Ogum uma pequena coroa chamada àkòró , e por isso até hoje Ogum é saudado também como Ogún Oniré e Ogún Aláàkòró.
Justamente por esta história, Ogum é associado ao número sete, e suas representações nos lugares que lhes são consagrados são suas ferramentas, em número sete, quatorze ou vinte e uma, todas de ferro, penduradas em uma haste de ferro na posição horizontal, sendo que estas ferramentas podem ser espada, ponta de lança, enxada, etc.
Eu conheço Ogum sincretizado na imagem de São jorge, e seu dia comemorativo é dia 23 de abril, mas na Bahia, Ogum é sincretizado como Santo Antonio, e seu dia comemorativo é 13 de junho.
A cor que representa Ogum, no meu ponto de vista seria o azul marinho, apesar que em muitos centros de Umbanda, a cor que usam para representar Ogum é o branco e o vermelho.
Para quem não sabe, no Candomblé, o branco e o vermelho é usado para representar Xangô, orixá que falarei mais adiante e explicarei o porque de ser sincretizado com estas cores no candomblé, apesar de o marrom representar Xangô na Umbanda.
Não existe uma cor específica para a falange de Ogum, o azul marinho representa o Ogum em si, o Orixá, o Pai,o chefe da falange, mas dependendo da qualidade de Ogum que se apresenta nos terreiros, a cor que os representa pode variar.
Ogum Rompe Mato, por exemplo, muitos terreiro usam vermelho e verde, e eu já vi verde, branco e azul marinho, e este Ogum pode ser cultuado tanto na terça-feira que é dia de Ogum como na quinta-feira, que é dia de Oxosse, pois Ogum Rompe Mato trabalha em harmonia com Oxosse nas entradas das matas.
Ogum Iara, por exemplo, vários terreiros usam as cores vermelho e e azul claro, para representar esta qualidade de Ogum, e várias doutrinas explicam que Ogum Iara trabalha em harmonia com Oxum nas cachoeiras.
E por aí vai, cada qualidade de Ogum tem sua especialidade e sua cor respectiva.
Como já dito aqui, cultua-se Ogum na terça - feira, seu dia de festividade é 23 de abril, seu elemento é o ferro, e seu planeta correspondente é Marte. Por que Marte??
Marte foi batizado de Deus da Guerra devido a sua coloração vermelha, no antigo Egito, era chamado de Nergal, que significava Deus da Guerra.
Na Babilônia, de angaraka, que significa coração ardente. Mas é na mitologia grega que encontramos a explicação mais plausível de todas, Ares era o deus da guerra e sempre andava acompanhado pelos seus dois filhos Phobos e e Deimos, que são os nomes das duas luas do Planeta Marte.
O Mariwo, que é a folha de dendezeiro desfiada, simboliza Ogum e nos terreiros encontramos as portas na parte superior forradas de Mariwo. Uma história que explica o motivo das folhas de mariwo estarem sobre as portas é que um pobre homem peregrinava por toda parte, trabalhando ora numa, ora noutra plantação. Mas os donos da terra sempre o despediam e se apoderavam de tudo o que ele construía. Um dia esse homem foi a um babalawo, que o mandou fazer um ebó na mata. Ele juntou o material e foi fazer o despacho, mas acabou fazendo tal barulho que Ogum, foi ver o que ocorria. O homem, então, deu-se conta da presença de Ogum e caiu a seus pés, implorando seu perdão por invadir a mata. Ofereceu-lhe todas as coisas boas que ali estavam. Ogum aceitou e satisfez-se com o ebó. Depois conversou com o peregrino, que lhe contou por que estava naquele lugar proibido. Falou-lhe de todos os seus infortúnios. Ogum mandou que ele desfiasse folhas de dendezeiro (mariwo), e as colocasse nas portas das casas de seus amigos, marcando assim cada casa a ser respeitada, pois naquela noite Ogum destruiria a cidade de onde vinha o peregrino. Seria destruído até o chão. E assim se fez. Ogum destruiu tudo, menos as casas protegidas pelo mariwo. As ervas consagradas à Ogum, são muitas, mas as principais são a lança de Ogum e a Espada de São Jorge. A bebida de Ogum hoje é a cerveja, pois é muito difícil encontrar sua bebida predileta, que seria o vinho de palma.
A comida de Ogum, é o inhame, que pode ser preparado de diversas formas, de acordo com a nação, e as orientações da entidade em terra, e a feijoada de feijão preto. Ogum gostava de beber e de comer carne de cachorro, especialmente quando era crua. Mais uma história pode ser contada , sobre o vinho de palma e sobre Ogum, com a qualidade de Xoroquê. Diz-se que Ogum era um jovem caçador, filho do chefe da cidade de ILé Ifé. Em certa vez, ao voltar de uma caçada, Ogum não encontrou sua bebida predileta que era o vinho de palma, e ficou muito , mas muito zangado com seus servos. Foi para o alto de uma montanha e XORO KÊ (gritou ferozmente e cortou cruelmente ), e cobriu-se de fogo e sangue. Este Ogum foi chamado de XOROQUÊ devido à sua fúria. Furioso, Ogum foi para longe de casa, pelo tempo de seis meses, o tempo em que Xoroquê é Exú, aventurando-se pelo mundo e somente após estes seis meses que Ogum voltou para casa mais calmo, voltando a assumir suas características de Ogum guerreiro e conquistador.