quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Ogum, Rei da Guerra, Vencedor de Demanda








“Bi omodé bá da ilè, Kí o má se da Ògún”.
(Uma pessoa pode trair tudo na Terra Só não deve trair Ogum).


Como não poderia deixar de ser, abro a primeira postagem deste blog com o Orixá que , abre nossos caminhos, é Pai, Amigo, Irmão.
Estamos falando de Ogum.
Conforme a tradição afro-brasileira, Ogum foi o segundo fiho de Yemanjá e Oxalá, tendo por este motivo estabelecido uma grande amizade com seu irmão mais velho, Exú, este sendo bem mais presente que seus demais irmãos.
Ogum e Exú andavam sempre juntos, tinham habilidades e interesses semelhantes, sendo que Exú reinava nas encruzilhadas enquanto Ogum era dono das estradas do mundo.
Ogum é a figura do guerreiro.
Outra história, que eu já ouvi, é que Ogum tinha uma capa de búfalo que ao vesti-la, tornava-o invisível, e assim ia conhecer seus inimigos de perto, sem ser visto, e conhecendo seus pontos fracos, depois atacava-os sempre ganhando suas batalhas, Ogum nunca perdeu uma guerra.
Podemos observar, como frequentadores de terreiros, pelos quais já passamos e pelo qual frequentamos hoje, que existem diversas qualidades de Ogum, mas Ogum Megê, é o chefe de todos Orixás.
Ogum Megê, trabalha em harmonia com Omulú, na entrada da Kalunga Pequena ( cemitério ), e com Iansan do Balé.
Temos ainda as qualidades mais conhecidas de Ogum, que são Ogum Rompe Mato, Ogum Beira -Mar, Ogum de Ronda, Ogum Iara, Ogum Xoroquê, Ogum de Lei, Ogum Sete Ondas, Ogum Sete Lanças, fora as qualidades de Ogum no Candomblé.
Tive a oportunidade de ouvir um cd de pontos cantados, que cita Ogum Rompe Nuvens, então podemos entender que realmente existem muitos desdobramentos do Orixá Ogum, sua falange é muito grande.
Nos Candomblés encontramos mais qualidades, tais como Tisalê, Xoroquê, Ogunjá, Onirê, Alagbede, Omini, Wari, Erotondo, Akoro Onigbe.
Ogum é o primeiro Orixá a ser saudado, depois que se despacha Exú nas giras.
É sempre o Orixá Ogum que desfila na frente, que abre caminho para que os outros Orixás, venham a manifestar-se.
Ainda falando nos desdobramentos do Orixá, em Irê acredita-se que Ogum é composto de sete partes. Há uma frase que diz :Ogún méjeje lóòde Iré, que faz alusão as sete aldeias que existiam em volta de Irê.
Ante que fique algumas dúvidas, sobre o que é Irê, respondo a questão através de uma história contada nos Candomblés.
Ogum, teria sido filho mais velho de Odùduà, e fundador de Ifé, tendo assim o título de Oniré ( Rei de Irê ), por ter invadido e tomado posse da cidade de Irê, matando seu rei , e usava Ogum uma pequena coroa chamada àkòró , e por isso até hoje Ogum é saudado também como Ogún Oniré e Ogún Aláàkòró.
Justamente por esta história, Ogum é associado ao número sete, e suas representações nos lugares que lhes são consagrados são suas ferramentas, em número sete, quatorze ou vinte e uma, todas de ferro, penduradas em uma haste de ferro na posição horizontal, sendo que estas ferramentas podem ser espada, ponta de lança, enxada, etc.
Eu conheço Ogum sincretizado na imagem de São jorge, e seu dia comemorativo é dia 23 de abril, mas na Bahia, Ogum é sincretizado como Santo Antonio, e seu dia comemorativo é 13 de junho.
A cor que representa Ogum, no meu ponto de vista seria o azul marinho, apesar que em muitos centros de Umbanda, a cor que usam para representar Ogum é o branco e o vermelho.
Para quem não sabe, no Candomblé, o branco e o vermelho é usado para representar Xangô, orixá que falarei mais adiante e explicarei o porque de ser sincretizado com estas cores no candomblé, apesar de o marrom representar Xangô na Umbanda.
Não existe uma cor específica para a falange de Ogum, o azul marinho representa o Ogum em si, o Orixá, o Pai,o chefe da falange, mas dependendo da qualidade de Ogum que se apresenta nos terreiros, a cor que os representa pode variar.
Ogum Rompe Mato, por exemplo, muitos terreiro usam vermelho e verde, e eu já vi verde, branco e azul marinho, e este Ogum pode ser cultuado tanto na terça-feira que é dia de Ogum como na quinta-feira, que é dia de Oxosse, pois Ogum Rompe Mato trabalha em harmonia com Oxosse nas entradas das matas.
Ogum Iara, por exemplo, vários terreiros usam as cores vermelho e e azul claro, para representar esta qualidade de Ogum, e várias doutrinas explicam que Ogum Iara trabalha em harmonia com Oxum nas cachoeiras.
E por aí vai, cada qualidade de Ogum tem sua especialidade e sua cor respectiva.
Como já dito aqui, cultua-se Ogum na terça - feira, seu dia de festividade é 23 de abril, seu elemento é o ferro, e seu planeta correspondente é Marte. Por que Marte??
Marte foi batizado de Deus da Guerra devido a sua coloração vermelha, no antigo Egito, era chamado de Nergal, que significava Deus da Guerra.
Na Babilônia, de angaraka, que significa coração ardente. Mas é na mitologia grega que encontramos a explicação mais plausível de todas, Ares era o deus da guerra e sempre andava acompanhado pelos seus dois filhos Phobos e e Deimos, que são os nomes das duas luas do Planeta Marte.
O Mariwo, que é a folha de dendezeiro desfiada, simboliza Ogum e nos terreiros encontramos as portas na parte superior forradas de Mariwo. Uma história que explica o motivo das folhas de mariwo estarem sobre as portas é que um pobre homem peregrinava por toda parte, trabalhando ora numa, ora noutra plantação. Mas os donos da terra sempre o despediam e se apoderavam de tudo o que ele construía. Um dia esse homem foi a um babalawo, que o mandou fazer um ebó na mata. Ele juntou o material e foi fazer o despacho, mas acabou fazendo tal barulho que Ogum, foi ver o que ocorria. O homem, então, deu-se conta da presença de Ogum e caiu a seus pés, implorando seu perdão por invadir a mata. Ofereceu-lhe todas as coisas boas que ali estavam. Ogum aceitou e satisfez-se com o ebó. Depois conversou com o peregrino, que lhe contou por que estava naquele lugar proibido. Falou-lhe de todos os seus infortúnios. Ogum mandou que ele desfiasse folhas de dendezeiro (mariwo), e as colocasse nas portas das casas de seus amigos, marcando assim cada casa a ser respeitada, pois naquela noite Ogum destruiria a cidade de onde vinha o peregrino. Seria destruído até o chão. E assim se fez. Ogum destruiu tudo, menos as casas protegidas pelo mariwo. As ervas consagradas à Ogum, são muitas, mas as principais são a lança de Ogum e a Espada de São Jorge. A bebida de Ogum hoje é a cerveja, pois é muito difícil encontrar sua bebida predileta, que seria o vinho de palma.
A comida de Ogum, é o inhame, que pode ser preparado de diversas formas, de acordo com a nação, e as orientações da entidade em terra, e a feijoada de feijão preto. Ogum gostava de beber e de comer carne de cachorro, especialmente quando era crua. Mais uma história pode ser contada , sobre o vinho de palma e sobre Ogum, com a qualidade de Xoroquê. Diz-se que Ogum era um jovem caçador, filho do chefe da cidade de ILé Ifé. Em certa vez, ao voltar de uma caçada, Ogum não encontrou sua bebida predileta que era o vinho de palma, e ficou muito , mas muito zangado com seus servos. Foi para o alto de uma montanha e XORO KÊ (gritou ferozmente e cortou cruelmente ), e cobriu-se de fogo e sangue. Este Ogum foi chamado de XOROQUÊ devido à sua fúria. Furioso, Ogum foi para longe de casa, pelo tempo de seis meses, o tempo em que Xoroquê é Exú, aventurando-se pelo mundo e somente após estes seis meses que Ogum voltou para casa mais calmo, voltando a assumir suas características de Ogum guerreiro e conquistador.